Desde os seus dez anos de
idade ele já sabia o que queria quando adulto fosse. Sempre admirou os grandes
profissionais da saúde, seu poder, sua importância, sua responsabilidade.
Durante toda sua vida foi educado para ser grande, corajoso, dedicado,
poderoso. Mas a ambição nem sempre é bem dosada.
O garoto tinha todo o seu tempo livre para se dedicar
aos estudos, filho de família rica, o fez. Foi exemplar aluno durante o seu
período de educação básica e secundária, orgulho e exemplo da família. E aos 17
anos ingressou no curso superior de medicina e se especializou em cirurgia
geral. Estava feito o grande Médico Cirurgião da família! Mais um vencedor,
mais um anjo salvador de vidas!
-Você tem uma vida para salvar hoje doutor, está
feliz? Ela já está na sala, o esperando. – Dizia a sua assistente,
radiantemente bela, mas infelizmente era casada.
-Já vou! – Gritava o doutor.
Assustou-se ao ler a ficha da paciente, aquela mulher
fora a que desgraçou sua alma, sofrimento nunca revelado, porém devastador. Ela
havia brincado com sentimentos de um menino ingênuo, talvez tenha sido a única
que ele amou, e ali estava ela pronta para um transplante de coração, talvez o
antigo estivesse podre demais. Mas isso não importava, agora ele que tinha o poder,
e realmente se sentiu forte, poderoso, tudo o que sonhou quando criança vinha
em sua mente com uma força gigantesca, agora ele tinha o poder sobre a vida e a
morte de quem o matou por dentro.
O anjo se encaminhava então para a sala, salvar mais
uma vida, mas não foi bem assim que tudo aconteceu. Tomado por ódio e com o
poder em suas mãos, seu equilíbrio mental foi ao espaço. Ele transplantou o
coração, mas não aplicou os imunossupressores necessários para evitar infecção
e a rejeição do coração.
-A cirurgia foi realizada com sucesso – Dizia a
assistente à família – Vamos aguardar sua reação ao transplante. – E saiu.
Resultado previsível, a pobre moça foi ao óbito
rapidamente. Ele mesmo foi dar a notícia.
-Infelizmente ela não aceitou bem o coração, está
morta! – Falou com uma frieza que chegava a ser demoníaca, mas não externava
sua satisfação, e sim, ele estava muito satisfeito, era o Anjo da Morte, o que
tinha o poder em mãos, o orgulho de sua família.
Como é comum a morte em locais desse tipo, tudo
passou batido, caso encerrado, corpo cremado, como desejava a vítima caso não
vivesse.
Após esse ato sua estabilidade mental jamais foi
retomada, mais e mais mulheres foram assassinadas, alguns homens e crianças
eventualmente, mas principalmente mulheres. Algum tempo depois de iniciado a
carnificina alguém resolveu contestar o anjo. Este foi investigado e acusado,
foi condenado à prisão perpétua por cinquenta e seis casos de assassinato
confirmados, na prisão matou seus companheiros de cela e se matou com uma faca
enterrada na garganta.
Mas deixou um bilhete: “Imbecis, como ousam
contestar-me? Tenho poder sobre a vida e a morte! Foram noventa e nove com os
bastardos dessa cela, mas gosto de números redondos. Não havia mais nenhum para
completar minha conta então me matei. Aguardo-vos no inferno. Anjo da Morte”.
Era louco, escravo dos sentimentos, inteligente
demais para conseguir livrar-se disso.